Hoje vou postar aqui o trecho de um livro que li nos idos dos anos 90, e que amei! Esta parte que colocarei, foi a que mais marcou para mim, acho que pelo fato de ser a descrição de uma dança. É claro que já li umas duas vezes à mais, mas este trecho eu li milhares de vezes, inclusive até para as minhas alunas (Dança do Ventre).
O livro se chama:
"Uma Mulher chamada Tii" - Editora Radhu -
É um romance mediúnico de Marilusa Moreira Vasconcelos por Tomás Antonio Gonzaga e César.
Farei algumas adaptações para ficar mais breve.
Boa viagem...
Uma só Jóia
...foi neste momento, que as servas do séquito real foram anunciadas e começaram a entrar se posicionando no enorme salão...
Um gongo soou e meninas dançarinas entraram jogando flores que forraram o chão do recinto. Em seguida, algumas esculturas colocadas no salão foram acesas. Eram velas gigantescas de cera, e de sua fumaça se evolava um perfume suave e inebriante.
Uma euforia anestesiante tomou conta dos presentes, Amenhotep percebeu, com impacto, que a jovem aluna usava de seus conhecimentos, para envolver os presentes com um filtro de amor, mas procurou permanecer impassível. Aquela essência ele não lhe ensinara. Então quem?...
O bem estar causado pela essência já dominava os presentes. Se Tii estava com intenção de ser amada, por certo, usava expedientes para tanto.
Em seguida, núbios fortes entraram com tochas protegidas por vidros coloridos que, a medida que eles caminhavam, impregnavam de nuances e movimentos o pavimento e as paredes, causando uma sensação de leveza tal, que ele só conhecera quando mergulhava nas águas claras do lago do oásis, nadando entre peixes e vegetação exótica.
Foi a vez dos músicos, com alaúdes, flautas, instrumentos de cordas e percussão, cantando alegremente, saudarem todos os presentes. E, então, de repente, todas as luzes se apagaram. As tochas foram abafadas e, na porta de entrada uma única luz se viu e nela a silueta de Tii. O derbak apenas se ouvia, tocando ao ritmo do coração. A própria respiração dos presentes estava suspensa.
Yuaa e sua esposa perceberam que a filha ia executar uma das danças sagradas, que aprendera no Templo de On, a dança da fertilidade e do amor...ao lado do casal real, o príncipe herdeiro observava ansioso.
Quando Tii atingiu o centro da sala, as tochas foram novamente acesas. Elas eram giradas nas mãos dos servos, de tal sorte que a luz projetada pelos vidros multicores criava estranha atmosfera de luz e cores, no espaço, e nas vestes diáfanas da jovem noiva. Ninguém saberia dizer qual seria a cor de seu vestido. A música subiu envolvente e ela dançava. O ventre desnudo, os movimentos ondulantes, ela se fazia ali, meio mulher, meio serpente. Os cabelos esvoaçantes pelas costas, cintilavam de pedras finas, os seus pés descalços, sustiam-na nas pontas como se deslizassem no solo...o ventre ondulava em movimentos ora lentos, ora rápidos, acompanhando o ritmo da música que invadia o imenso salão.
Seus lábios vermelhos sorriam com voluptuosidade, e as mãos pareciam mover-se a maneira dos cisnes. Os volteios do corpo faziam as vestes girarem e os véus movidos pelas mãos teciam arabescos no ar, mostrando o corpo fino e delicado, a pele clara.
A pequena princesa ia e vinha nos volteios. Ao parar diante do trono os movimentos do quadril se fizeram mais rápidos e os ombros acompanhavam, destacando seu bustiê ricamente bordado em pedrarias. O tronco tombava para frente e para trás e a agitação dos movimentos era tão harmoniosa que era difícil saber o esforço dispendido, e como se conseguia harmonizar todo o conjunto dos movimentos dos membros, do ventre, dos ombros, da cabeça.
Tii parecia agora tomada pela música, girava com tal graça e leveza que parecia iria alçar vôo. Foi depois abaixando para o solo, enquanto os movimentos dos quadris continuavam.
Ninguém percebera, mas no chão haviam colocado uma espada de ouro toda trabalhada. Ela abaixou-se e a tomou, girando com ela.
Os presentes não conseguiam tirar-lhe os olhos. A música evoluia mais e mais vibrante. Ao som dos instrumentos de percussão, sincronicamente, os quadris subiam, desciam, volteavam, em ondulações longas ou curtas, e as pernas tremiam febricitando as vestes...
Percebia-se que a música atingia seu auge. Tii ergueu a espada sobre a cabeça e voltou-a como contra o próprio peito. Yuaa teve um sobressalto. Todos estremeceram. Iria a jovem dar cabo da própria vida? O príncipe saltou os degraus e ela, atirando-se para trás, lançou-se com as pernas dobradas para trás no solo, a espada sobre a barriga, equilibrava-se, enquanto seus braços se alongavam para trás e para cima como se fossem duas najas prontas para o ataque. O príncipe estancou diante dela e, vendo-o, a menina tomou a espada e estendeu-lhe.
Erguera-se do solo como um felino ágil, e agora erguia os dois braços cumprimentando os reis e seus pais.
Tii com uma vênia foi saindo, acompanhada de seus músicos...
Gostaram?
Flores e Luz.